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O Assobio da Cobra 2

by Manuel Paulo

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Ricardo Soares
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Ricardo Soares It's a great album from a great composer. Favorite track: "Solstício" com Paulo de Carvalho.
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1.
BOM MARMANJO Eu tenho um amigo chamado José Desses que até Dançam só para ti Tem duas asas que roubou de um anjo É um bom marmanjo Não passa daí Às vezes faz doces e passa por cá Pergunta quem está E embrulha um sorriso Eu estendo a toalha nas tábuas do chão Comemos à mão Sem dó nem juízo Eu tenho um amigo chamado José Bonito que até Encanta sereias Tem um jeito fino, um jeito qualquer Que qualquer mulher Se põe com ideias Dizem que tem lábia de fora-da-lei Eu, isso não sei Nem vou por aí Só sei que me abraça se tremo, se choro Só sei que o adoro Não passa daí j. monge
2.
AMOR É BICHO Amor é bicho que acasala pelas veias Espalha cuspo, espalha teias Espalha-brasas no palato Amor é bicho com asas até à lua Lua nova, lua nua E nunca usa sapato Amor é bicho faz-de-conta-que-tem-pé E sabe sei lá o quê Dos caminhos da razão E tem razão, não liga puto pra isso Não tem sorte nem enguiço Só estrada no coração É coisa de homem É coisa de mulher É coisa de qualquer Que é bicho de quem quiser Amor é bicho que quer colo a toda a hora Que é feliz se anda à nora Que come e bebe suor Tem língua fina com estrelas no céu-da-boca É bicho de pouca roupa Mas podia ser pior É coisa de homem É coisa de mulher É coisa de qualquer Que é bicho de quem quiser j. monge
3.
SALVAÇÃO Já andei à flor da vida Sem ‘ma vivalma ao redor São dias de recaída Para me perder melhor Ouvi uma pedra falar Para eu não ir por aí Pois qualquer pedra ao rolar Vai ao encontro de ti Aquele que já passou Mal de amor e não sofreu É só porque nunca amou E não sabe o que perdeu Não te vás agora embora Partilha o teu azedume Deita tudo cá para fora Beija-me e dá-me lume Já vi uma pedra morrer De solidão no deserto Só por não querer nem saber Que alguém andava por perto Aquele que já passou Mal de amor e não sofreu É só porque nunca amou E não sabe o que perdeu Já sabes o que eu vivi Salva-me e não digas nada Dá-me uma parte de ti Eu dou-te a minha morada j. monge
4.
SOLSTÍCIO Se o coração se revolta Volta a bater do início O meu vestido dá volta e lá volta Ao milagre do solstício Abre a flor que trazes no peito Nada volta a ser o que era Sei que gostas do jeito, do meu jeito De te dar a primavera Andamos a sós no mundo Mas somos da multidão Que tira a roupa à romã À maçã E amanhã tira a roupa ao coração Somos filhos da noite crua Deitados num estandarte Damos um tiro na Lua E quando a manhã desagua Fazemos um filho em qualquer parte Não temos regras nem tino Nada em nós é sagrado Não somos filhos de um hino e o destino Não é para aqui chamado Não temos regras nem tino Nada em nós é sagrado j. monge
5.
PORQUE É QUE O MAR É AZUL? Porque é que o mar é azul? É da sua verdade? Ou será que se fez tão azul Pela nossa vontade? Que cor podia ter? Como o podia pintar Se não pudesse ver o azul Cá dentro a saltitar? Corre na areia Salpica o teu vestido Ouve a maré-cheia Cantar baixinho ao ouvido: É tão simples: O mar é azul (Nada é mais natural) Talvez o pó das estrelas Fosse azul-primordial O mar da razão Só chega onde pressente O mar que está na tua mão Vai sempre mais à frente
6.
choro da vã filosofia Eu não sei dizer se o mar me vê Mas de onde estou eu vejo o mar, eu vejo As ondas vão e vêm E dançam a dança do sal E o sol distante tudo vê e nada diz Quer brilhar e só Não sonha ser feliz Quero ser o sol Tudo ter Calor e luz e eternidade Eu não sei dizer se o mar me vê Mas de onde estou eu vejo o mar, eu vejo O temporal que vem E afoga o sonho Um barco leve que o vento sopra Enquanto eu afago o meu desejo E rego distraído Flores da estação, quem Vive na memória Como um quadro na parede dói Sangue da vitória Não basta ao herói Sei do mal, da solidão Da dor do amor E a minha canção sabe o sabor Da tal felicidade Que se esconde E mais ninguém vê Vem andar junto comigo Agora que dorme a cidade Toda madrugada é um cinema Na escuridão a luz soa verdade E onde o sol brilhou No céu azul só há Vestígios de algum luar
7.
À BEIRA DA MINHA RUA À beira da minha rua Bateu um mar pequenino Era o regaço da Lua À beira do meu destino Dobrei a voz com as mágoas E dela fiz um barquinho São águas, Senhor, são águas Deixai este meu caminho Fechei os olhos ao mar Que ele me leve a perder Este jeito de cantar Tem esta forma de ver Tão longe vai o barquinho Que até o mar continua Parte e regressa sozinho À beira da minha rua j. monge
8.
ESPINGARDAS E LENÇÓIS Vê lá Bem os terrenos que pisas Eu sei o que tu precisas Meu bandido Tu vê lá Eu já fui uma menina Que deu pontapés numa mina Sem chamuscar o vestido Deu-me na gana Pior não há… Vê lá Eu não quero anjos da guarda Já comprei uma espingarda E uma flor Tu vê bem Eu não pertenço a ninguém Saio ao lado da minha mãe Que só se dá a alguém Que tenha a gana Do meu amor Deixa-me armar a tua espingarda Pôr a flor no teu vestido O nosso amor tem mostarda Já é crescido Vamos fazer uma casa ao sol Com escadas no teu lençol À porta um sonho em guarda Sempre em sentido Vê lá Mede os contras e os prós Vão falar muito de nós Em surdina Tu vê bem Que este ar de fora da lei E a raiva que eu não sei de onde vem Esconde uma menina Com uma espingarda Que era da mãe j. monge
9.
MULHER SÓ Se eu fosse mulher só de feijão e pão-de-ló de bordado e avental e de pôr a roupa ao sol Estava caída por ti que és só de jiripiti de batota e futebol Se eu fosse mulher só de Chanel e rococó de boleia nas revistas que são bíblia de trajar Embrulhava um modelo desses que não têm pelo e levava-o pra brincar Mas eu gosto da chuva de molhar os pés no mar de misturar pele e uva nos intervalos de amar Se eu fosse mulher só de janela, de laró A antena lá da rua rainha do diz-que-diz Não queria saber de mim casava com um pasquim e talvez fosse feliz Mas eu sou só uma mulher que já viu gente viver por uma causa que crê por um livro que não leu Se tu já viveste assim compra uvas e alecrim e depois leva-me ao céu É porque eu gosto da chuva de molhar os pés no mar de misturar pele e uva nos intervalos de amar j. monge
10.
CREDO INTEIRO Creio na vida antes da morte e nas flores do deserto Creio em tudo o que está perto do meu sonho inicial Creio que o amor principal pode ser a nossa sorte porque é assim que está certo Creio na fonte após a seca e na Terra que engravida das sementes que lá pomos antes da morte. Na vida Creio no amor completo No mar que tudo rodeia Todo o futuro é ideia Fruta verde à nossa espera - não é sonho, nem quimera – É o destino suspenso Por isso, amor, quando penso em nós os dois à deriva escondo-me, faço-me esquiva para que lutes por mim Brinques sempre à cabra-cega com a flor que se entrega no canteiro do jardim Creio nos gatos vadios, como nós e na maçã do pecado Creio que os nossos avós nos deixaram de legado a liberdade das aves para na escuridão das caves darmos o grito dos nus Gritarmos o nosso nome e assim darmos à luz o amor depois da fome Creio nos lobos matinais e nas corujas soturnas Creio que em tudo são iguais a nós e aos demais com um papel bem passado Um destino desenhado a cores que são noturnas mas no fundo iluminado p’lo nosso brilho solar Porque este amor sem receio dá-me razão no que creio Dá-me a porta de saída para esse estranho lugar que é feito só de sonhar Creio na vida! Creio na vida! Creio na casa abandonada Creio na praia abandonada Creio em nada, nada, nada Creio num pouco de vazio Creio num pouco de fastio E quero engravidar disso tudo Mãe das plantas e das aves mãe da escuridão das caves onde os deuses estão à mercê Porque eu sou só uma mulher que já viu gente viver por uma causa que crê j. monge
11.
BALADA DO CANSAÇO eu sei que ele vai chegar cansado meio azedo, meio vidrado com a barba por fazer vai espalhar o esqueleto na cadeira dizer mal da vida inteira sem vontade de comer depois vai procurar no meu regaço o seu pequeno espaço onde pode ser menino vai chorar em cima da minha saia para que a tristeza caia na escuridão do destino é só mais um dia desta vida que se não tiver saída ainda nos temos a nós então lambuzamo-nos em beijos em promessas, em desejos e vingamo-nos a sós e mortos desse cansaço bonito matamos o que é maldito de mais um dia sem esperança eu sei que amanhã volta cansado meio azedo, meio vidrado mas depois vai ser criança j. monge
12.
ARROZ DOCE Vou fazer arroz doce de babar Daquele da mais antiga colheita Como não quero ninguém a augar Toma atenção que eu vou dar a receita: É só cozer arroz em água e sal Juntar açúcar, cascas de limão Pau de canela, leite e manteiga normal E mexer tudo com o coração Mexe até ficar creme de avó Bate gemas à parte na tijela Para que não talhe e não dê um nó Junta duas colheres da mistela Tira o pau canela e o limão Deixa cair as gemas lentamente Que tudo cumpra bem essa função De pôr o nosso amor em arroz quente E quando escorrer ao jeito do mel Deixa arrefecer numa janela Para que o nosso amor sinta na pele Escreve o nome dele com canela Há quem faça sem ovos e babe Até há quem ponha Mandarim Cada qual sabe àquilo que sabe É bom mas não é arroz para mim Arroz doce é quase pecado Que pinga em qualquer lapela Não te esqueças do recado: Escreve o nome dele com canela j. monge
13.
ILHÉU DE CONTENDA Ilha do fogo e da calma Das manhãs quentes de café Sedenta da cor da alma Exausta da cor da fé Em cada flor um milagre Acende o sonho por momentos Há sempre um espinho mais acre Em qualquer rosa-dos-ventos Bandeira de S. Filipe Festa da terra. Gratidão Um lado diz-me que fique O outro diz-me que não La barca de mi destino Já fez a última partida Como se o Mundo em menino Desse um porto a cada vida A porta desta morada Tem uma estrada para o mar Entre o destino e mais nada
14.
PEQUENA MORTE Tens uma bala nos olhos Atiras sempre a matar A minha saia de folhos Conhece bem esse olhar Não dás troco para a treta De um amor e uma cabana Tens o fogo de um cometa E a lábia de um sacana Dizes que andas à míngua De coração do avesso Trazes na ponta da língua Um fado que eu já conheço Mas chegas de qualquer parte E ditas a minha sorte Só me apetece matar-te Depois da pequena morte Pela pinta és um senhor Ninguém te leva de cana Dás ares de pinga-amor Com a lábia de um sacana Chamas-me sempre baixinho Como se fosse um segredo Misturas sangue e carinho É isso que mete medo De perder o pé no mundo Ver do que somos capazes Quero ver-te bem no fundo Pra depois fazer as pazes Mas chegas de qualquer parte E ditas a minha sorte Só me apetece matar-te Depois da pequena morte j. monge
15.
NÃO SE PAGA Paga-me um copo, paga-me um abraço Diz-me que tens uma vaga Paga-me um pouco do teu pouco espaço E essa conta não se paga Fica por conta de sermos iguais O coração tem sempre dois lados O que ouve e sofre como os animais E entre nós não há fiados Paga-me um copo, paga-me um abraço E essa conta não se paga Há dias em que só quero partir tudo Morder o luar, brincar ao toca e foge Há dias em que acordo já cego e mudo Paga-me um copo e diz-me que dia é hoje! Fico a dever-te uma dor por sarar O coração tem sempre dois lados O que ouve tudo e o que não tem vagar E entre nós não há fiados Paga-me um copo, paga-me um abraço E essa conta não se paga j. monge

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released January 31, 2022

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Manuel Paulo Lisbon, Portugal

“O Assobio da Cobra 2” é o segundo capítulo de uma banda sonora de um filme por realizar. São 15 histórias emocionantes que inspiram a celebração do amor, de um amigo, da dor ou, porque não, de uma receita apaixonada de Arroz Doce.

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